Tom Kristensen: “Vem aí a jóia da coroa!”

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Nunca ninguém venceu tantas vezes a mítica corrida de La Sarthe. Tom Kristensen, dinamarquês, nove vezes vencedor das 24 Horas de Le Mans, pode estar descansado que, pelo menos durante uma década ou algo do género, terá o seu recorde a salvo, uma vez que nenhum outro piloto em atividade coleciona tantas vitórias que se possa perfilar como candidato imediato à sucessão….

Nem existe tamanha estabilidade de regulamento ou envolvimento oficial da marcas que permita antever um período tão profícuo quanto o que Kristensen viveu enquanto piloto da Audi. Mas mesmo sendo uma lenda, um recordista, uma espécie de “deus” no Olimpo das corridas de resistência, Tom Kristensen não… resiste. Não resiste a estar presente. Podia ficar a ver em casa, mas não seria a mesma coisa.

Depois de experimentar várias missões, desde o “Grand Marshall” (uma espécie de comissário desportivo honorário, numa direção de prova que, mais uma vez, volta a ser liderada pelo português Eduardo Freitas) a embaixador das marcas que sempre representou, da Audi à Rolex, Kristensen volta a desempenhar um papel importante da edição 86 das 24 Horas de Le Mans: vai ser o “treinador” ao serviço do canal Eurosport, que transmite o evento. “The Coach”, será a sua designação durante o fim de semana da prova. De duas em duas horas estará no ecrâ a comentar o que acontece e dar dicas sobre o que pode acontecer.

“É uma corrida lendária, a jóia da coroa. É um evento que exige fiabilidade, do ponto de vista do homem e da máquina”, lembra, a propósito daquela que é considerada a maior corrida do planeta. “Este ano tem um valor talvez ainda mais especial porque “serão duas edições das 24 Horas de Le Mans num rejuvenescido calendário do campeonato do mundo de Endurance”, lembrando que, pela primeira vez, o campeonato WEC percorre datas em dois anos civis e fecha com a prova de 2019, em Le Mans.

Kristensen vai estar no circuito histórico de La Sarthe com uma outra missão: guiar quatro históricos vencedores da mítica corrida, um Bentley de 1924, um Ferrari 166MM que ganhou a prova em 1949, no retomar de atividades pós-II Guerra Mundial, um Ford GT dos históricos duelos Ford/Ferrari dos anos 60, e um Matra de 1974.

As 24 Horas de Le Mans constituem um dos momentos altos do ano nos desportos motorizados e pode ser acompanhada, na íntegra, pelo Eurosport. Rafael Nadal, famoso tenista espanhol, estará à partida para dar a bandeirada de arranque.

Entrevista a Tom Kristensen
Em exclusivo para o canal Eurosport, Tom Kristensen falou da prova e dos pilotos portugueses envolvidos.

Entusiasmado de ver pilotos de outras disciplinas na edição deste ano das 24 Horas de Le Mans?

Ao longo dos anos, foram muitos os pilotos de outras disciplinas, incluindo a Fórmula 1, que competiram em Le Mans e com bons resultados. Este ano vamos ter o colombiano Juan Pablo Montoya, que se estreia em Le Mans. Vão ter oportunidade de ver Jenson Button, o ex-campeão do mundo de Fórmula 1, que também se estreia. Um e outro não estão em carros favoritos à vitória na classificação geral, mas Le Mans é muito mais que isso. Juan Pablo Montoya, tem uma ambição, ou um sonho, similar ao de Fernando Alonso: vencer o GP do Mónaco de F1, vencer as 500 Milhas de Indianápolis e depois, a maior de todas, as 24 Horas de Le Mans. Têm a ambição de o fazer ao longo da carreira.

Como mede as chances de Filipe Albuquerque?

O Filipe é uma pessoa fantástica e um excelente piloto. Claro que tem hipóteses de vencer Le Mans no futuro. Este ano já ganhou as 24 Horas de Daytona. Conheço o Filipe há muitos anos. Até ajudei o ajudei quando foi contratado pela Audi. Nesses anos em que correu pela Audi, ajudei-o porque acredito ser um ser humano fantástico e um grande piloto. Este ano houve o fantástico sucesso português na Rolex 24 in Daytona com o Filipe, o João Barbosa e o Christian Fittipaldi, guiando o Cadillac da equipa Sampling Racing Team.

Sem dúvida que no futuro ele tem enorme potencial. Um dos que pode perspectivar-se como vencedor das 24 Horas de Le Mans.

O que pensas de Pedro Lamy?

O Pedro é da minha geração. Teve uma carreira fantástica e continua a adorar competir. Como guia nos GTE AM tem uma boa hipótese de ganhar com a Aston Martin.

O que representa Le Mans para si?

Para mim, é a prova mais difícil do mundo. Talvez não parece humilde dizer isso, mas as 24 Horas de Le Mans são mesmo a prova mais dura. Devemos sempre esperar… o inesperado. Uma corrida que se faz de dia e de noite, que pode ter muito calor quando o sol brilha. Muito dura para os carros, para pilotos, para os mecânicos. Por vezes, guiamos com variadas condições atmosféricas. E depois há a velocidade ao longo dos 13.626 km da pista. Velocidades incríveis. É o maior dos desafios do Desporto Motorizado nos dias de hoje. Só acontece uma vez por ano e requer um dia de preparação. Depois, só temos 24 Horas para demonstrar a velocidade, a fiabilidade e as tuas capacidades.

Qual o teu ponto alto em Le Mans?

Tive a sorte de, em 1997, ser chamado para uma equipa apenas quatro dias antes da prova. Fui contacto para saber se estava interessado em guiar um Porsche na companhia de Michele Alborerto e Stefan Johansson. Não tive qualquer tipo de preparação prévia, mas entrei numa equipa que tinha enorme experiência. O carro era bom. E os meus companheiros ajudaram-me a sentir-me seguro. Confiaram em mim, apesar de ser bem mais novo. Ter esse ambiente a rodear-me ajudou-me na minha primeira Le Mans, isto apesar de ter feito apenas 17 voltas antes do início da corrida. Ajudou-me a entrar na prova. Durante a noite e a madrugada, era eu que fazia as voltas mais rápidas. De seguida, a equipa pediu-me para fazer quatro turnos seguidos ao volante. Com isso, colocámos muita pressão nos adversários. Acabaram por abandonar e eu venci na estreia.

Essa foi a fundação para a construção da minha carreira em Le Mans. Depois vieram os muitos anos com a Audi, que considero a melhor equipa do mundo. Fazendo as contas, comandei a prova em 16 das 18 presenças. Só posso sentir-me abençoado por ter terminado 14 vezes no pódio e ganho por nove vezes. Tive grandes companheiros, capazes de produzir um belíssimo trabalho de equipa, sempre com bom ambiente. Claro que tivemos de ultrapassar desafios, dificuldades. Mas na maioria das vezes, conseguimos grandes resultados com os fantásticos carros que guíamos.

A prova deste ano tem pilotos como Jenson Button, Juan Pablo Montoya e Fernando Alonso. Que grandes desafios se colocam diante deles?

É uma estreia para eles em Le Mans, mas com enquadramentos diferentes. O Montoya já ganhou as 24 Horas de Daytona, correu lá várias vezes. O Fernando Alonso só fez essa prova uma vez. E quanto ao Jenson Button, eu acho que ele nunca fez uma prova de 24 Horas. O maior desafio para eles será a noite. A velocidade e o escuro da noite, ninguém sabe o que é essa mistura, em Le Mans, antes de lá estar pela primeira vez. É uma combinação de velocidade de ponta, quase 340 km/h para os LMP1, a velocidade no escuro da noite, em partes sem iluminação, é algo pelo qual nunca passaram, independentemente do que fizeram antes nas suas carreiras. Vão sair-se bem, mas também vão sentir um arrepio, uma excitação muito grande, um prazer também. Estou ansioso para estar com eles e falar com todos antes desta experiência.

 

86ª 24 Horas de Le Mans / 2018

HORÁRIOS NA TV (Eurosport)
4ªf/13 Jun
15-19h: Treinos Livres
20.45-21h: Le Mans Extra
21-23h: Qualifying 1

5ªf/14 Jun
17.45-18h: Le Mans Extra
18-20h: Qualifying 2
20-21h: Le Mans Extra
21-23h: Qualifying 3

6ªf/15 Jun
07.35-09h: Qualifying (resumo)

Sáb, Dom/16, 17 Jun
08-08.45h: Warm Up
12h: Pré-corrida com Tom Kristensen
14h: Partida
(dom) 14h: Chegada

Dom/17 Jun
19.30-20.30h: Melhores Momentos

Lista de inscritos das 24 Horas de Le Mans de 2018

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